sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dia 11 - Destroçada e nas ruas da amargura

Não há durona que não sinta as mazelas de um amor não correspondido e bem pode fingir que não pois só na solidão esta desabafa e lamenta a vida ter-lhe virado as costas quando tudo parecia ir tão bem.
A Lolita é assim, fria e forte como se uma armadura de cavaleiro mediaval a cobrisse, a vida fez-a assim, não é por isso pior amiga, muito pelo contrário.

Assim, quando entendeu Ela já ter perdido o grande amor da sua vida, deixou-o ir sem lhe suplicar que ficasse, sem lutar por Ele mais uma última vez. Ainda olhou para trás e já ao longe viu-o voar livre, seguindo o seu caminho sem o peso da mágoa dela nos seus ombros, no fundo sentiu-se também assim livre sabendo que nunca mais o seria.
Chorou sozinha pois hoje em dia já ninguém partilha lágrimas sinceras com as outras pessoas, olhou em volta para as fotos de uma felicidade mútua que haviam trocado aqueles últimos cinco anos, o meu menino, murmurou no silêncio daquele quarto agora só preenchido com os seus passos e deixou se cair na cama que ainda fedia o cheiro daquele que deixou partir, aos poucos as lágrimas que escorriam como chuva secaram na sua cara e a calma foi-se aponderando do seu corpo trémulo e frágil com o desgosto. Melhor assim, sabia que sim, mas é difícil aceitar a verdade e ninguém gosta de perder. Haveriam mais amores na sua vida, diziam-lhe, mas isso a Ela não lhe importava, arranjar um amor para esquecer o outro é quase tão doloroso como sexo sem sentimento, a falsidade apodera-se de nós, da nossa voz e dos nossos gestos e no fim, só um vazio cá dentro que nos faz desejar a morte, só para não enfrentar a humilhação de se olhar para o espelho outra vez.
Desligou-se do mundo, para viver sozinha aquela dor que não deve ser partilhada tal como a garrafa de vinho que bebeu no jantar solitário aquela noite e como a mesa, antes tão pequena para os dois se tornava gigante à medida que o seu jantar prosseguia, pensou que o álcool a ajudaria a esquecer mas acabou por se aperceber que fora pior, surgiam recordações de momentos que já há muito não se lembrava, como lamentava tê-lo deixado partir, devia ter-Lhe dito? Para quê? Iria Ele ouvir? Nos últimos dias juntos pareciam perfeitos desconhecidos a trocarem com frieza palavras necessárias, cada um a idealizar as suas vidas perfeitas que mais dia menos dia se separariam porque o destino assim o quis.
Amanhã será um dia melhor, pensou,embora nem sempre seja assim.

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